Entrevista 

Madonna - Uma conversa com a estrela do pop sobre amor incondicional, poder, fama e seu novo filme

Por: Sven Schumann e Johannes Bonke

Ela se encaixa em uma categoria única. Depois de vender mais de 300 milhões de álbuns, continua soberana como a rainha do pop. Mas acantora não é apenas uma estrela da indústria fonográfica. É também uma mulher de negócios inteligente, que atua em várias áreas. Já escreveu livros infantis, criou linhas de roupa e estrelou filmes, apesar de nunca ter sido levada asério como atriz - as pessoas esquecem que ela já ganhou um Globo de Ouro em 1996, por seu papel em Evita. E Madonna continua surpreendendo : W.E - Romance do Século, seu segundo lonmga como diretora, previsto para estreiar em 30 de março aqui no Brasil, conseguiu entrar em três festivais de primeira linha: Veneza, Toronto e Londres. A história narra o amor entre o Rei Edward VIII da Inglaterra, que abriu mão do trono, em 1936, para ficar com a americana Wallis Simpson, duas vezes divorciada. Nos mneses que precederam esta entrevista ficou claro como seria difícil conseguir um horário com a estrela. Ela tem uma equipe bem engrenada, que a acompanha passo a passo e faz uma checagem prévia cada vez que alguém solicita um enconmtro. Com um staff de mais de quinze pessoas, Madonna chega à suíte do luxuoso Hyatt Regency Hotel de Toronto para nossa conversa. A reputação dela como controladora e obcecada com exigências extravagantes desaparece em segundos. A rainha do pop é engraçada, sedutora e surpreendentemente aberta.

Madonna nos sets de filmagens

Entrevista

Legenda Sven Schumann - SS  Madonna - M

SS - W.E narra o amor entre o rei Edward VIII e Wallis Siompson. Por que esse tema é especial para você?

M - A história da abdicação ébem insana. Aquele homem se dispôs aabrir mão do trono pela mulher que amava. Acho que foi isso que me atraiu. Também adoro a época, das décadas de 1920 e 30, e sempre me interessei pela Inglaterra pré- Segunda Guerra Mundial.

SS - Como começou a sua fascinação por Edward e Wallis?

M - Quando me casei e fui morar na Inglaterra. Na verdade, não tinha amigos, não conhecia ninguém e resolvi educar a mim mesma para descobrir coisassobre o passado e a cultura do novo mundo em que eu estavavivendo. Assim comecei a estudar a história da Inglaterra. Passei a ler a respeito damonarquia, começando com Henrique VIII echegando a família Windsor.

SS - Você já conhecia a história dos dois antes disso?

M - Na escola, tinha ouvido falar que Edward tinha adbicado do trono, mas era um fragmento. Só sabia que o sujeito desistiu da coroa por causa de uma americana de Baltimore. Então, quando entrei mais profundamente na história, senti que havia algo de shakerpeariano em adbicar de tanto poder por amor.

SS - Você se imagina fazendo isso?

M - Acho que é importante compreender que, em um relacionamento ou no amor em geral, você vai ter que fazer concessões. Acho que, quando se tem filhos, por exemplo, você faz muitos sacrifícios por eles. Mas vivemos em um tempo diferente de Edward e Wallis, então temos o luxo de escolher coisas diferentes - ter uma carreira, uma família e amor. Mas é como ser malabarista. Elefoi um homem que se afastou do seu destino por uma grande paixão. Então, para uma pessoa romântica como eu, eu diria: "Uau, ser amada assim..."

SS - Você já foi amadaassim?

M - Não. [risos]

SS- Há esta frase no filme: "O amor é a emoção mais mal compreendida do mundo". Qual foi a coisa mais importante que você aprendeu sobreele nos últimos tempos?

M- Que é indescritível enão uma coisa só. Você nunca poderia defini-lo com uma palavra ou uma frase ou até mesmo um relacionamento. O amor parece em todas as formas e em todos os tamanhos possíveis.

SS - Wallis Simpson não costuma ser retratada de maneira muito positiva, mas o seu filme mostrou um lado diferente dela, mais humano.

M- É verdade. Descobri que muito do que se falava dela era negativo. Ela foi acusada de ser várias coisas - de nazista a umabruxa capaz de lançar feitiços.

SS - Você acha que isso se deve ao fato de os homens terem medo de mulheres poderosas?

M - Quando as mulheres tem bastante poder e nós não as entendemos, precisamos denegri-las ou transformá-las em hereges e queimá-las na fogueira, por assim dizer.

SS - Você se considera feminista?

M - Não, eu me considero humanista.

SS - Mas você tem poder...

M- Sim, tenho, mas acho que as pessoas com freqüência compreendem mal meu poder e se sentem intimidadas. Então, em vez detentar me entender... Quando você tem medo de alguma coisa, como age?

SS - No seu início de carreira, havia mulheres que a inspiravam?

M - Claro. Admirava (a pintura) Frida Kahlo, (a dançarina) Martha Graham e (fotografia e atriz) Tina Modotti - mulheres que eram artistas, que lutavam pela liberdade, que era ativistas políticas.

SS - Você já serviu como figura de mentora para alguma fã?

M- Bom, certamente já houve gente que veio me pedir: "Que conselho você pode me dar?" Mas existe uma linha tênue entre um perseguidor que só quer sugar sua energia, e alguém que admire você.

SS - Como você se sente sendo modelo de conduta para as mulheres?

M- Tenho consciência de que tudo o que digo e faço é julgado com uma medida diferente e que estou embaixo de uma lupa. Posso usar isso para um bem maior. Sei que posso influenciar muita gente.

SS - Já foi dito que você é a mulher mais famosa do mundo. Concorda?

M - Não sei. Como se quantifica a fama? Dependide que semana estamos falando, não é mesmo?

SS - Quando vovê era casada com Sean Penn e Guy Ritchi, aprendeu a fazer filmes?

M- Claro que sim. Observava de perto como os dois trabalhavam. Com Sean, já que ele vem do ramo da atuação, vi a importância do ensaio e da preparação - ensaiar o máximo possível antes de chegar ao set. Guy é um diretor muito mais visual, que assume riscos e corre perigo no que diz respeito aos movimentos da câmera e coisas asssim. Ele desrespeita as regras.

SS - Isso facilitou o começo da carreira de diretora para você?

M - Não, não. Eu me sentia totalmente intimidada com essa ideia porque era casada com um diretor. Eu pensava: "Quem sou eu?" Mas, no fim, obviamente, encontrei coragem para fazer.

SS - O que a atrai nesse cargo?

M- No papel de diretora, é possível contar uma história diferente de quando se é atriz. Dirigir engloba toas as coisas que adoro - arte, arquitetura, música, literatura, moda - e posso usar todas juntas. Sou uma pessoa muita detalhista e isso ébom para uma diretora.

SS - Você se importacom o que as pessoas vão dizer sobre o filme?

M - Seria ótimo se todos percebessem como um sucesso porque significa que vou ser capaz de influenciar as pessoas. Vamos ser sinceros, pois ninguém trabalha com tanto afinco para depois dizer: "Não me importo se as pessoas vão ou não assistir". Espero que o filme encontre seu público.

SS - Uma das mensagens do filme é: "Pare de tentar atingir a perfeição porque nunca vai encontrá-la".

M - Pare de tentar atingir a perfeição porque ela não existe. Além disso, também precisamos olhar por baixo da superfície. Como é que se pode conhecer uma pessoa? Você não pode ficar achando que vai saber quem ela é lendo um artigo.

SS - Você já esteve nessa situação?

M - Claro que sim.Vivemos numa sociedade obcecada por celebs. Acho que as pessoas confundem tudo. Ver a foto de alguém no quintal brincando com as crianças não significa ter intimidade. É uma ilusão.

SS - Há semelhanças entre o mundo das celebs e o da realeza?

M- Acho que os integrantes da família real das décadas de 1930 e40 eram os astros de seu tempo. Na época, as pessoas eram apaixonadas por Edward VIII.

SS - Ele é lembrado como uma das pessoas mais na moda do século 20.

M - Ele gostava de sevestir de um modo diferente. Usava meias de cores berrantes com terno e chapéu grande. Além disso, tinha casos com mulheres casadas e bebia coquetéis de benzedrina.

SS - Para que você acha que serve a monarquia atualmente?

M - Obviamente ela não tem mais o mesmo lugar, o poder e a influência de antes. Hoje, poder darealeza parece ter sido reduzido aos papéis de embaixadores e de auxiliar o turismo. Acho uma pena.

SS - Por que uma pena?

M - Porque as pessoas gostam de se sentir úteis de ser mais do que uma simples figura. As pessoas querem afetar as outras e, se você é rei ou rainha, vai querer ser capaz de provocar mudanças no mundo.

fonte: Revista Elle  ed. 284 páginas: 124/127- As fotos utilizadas nesta Entrevista não são as mesmas que foi publicada na revista